Conversas do grupo de whatsapp vazaram e mostram ataques contra negros e mulheres que atuam no ramo.
Fonte – Reporter MT
O empresario de Nova Mutum-MT,está entre os nomes envolvidos em escândalo nacional após comentários racistas e misóginos serem feitos contra concorrentes negros e do sexo feminino, no grupo de WhatsApp “Cervejeiros Iluminati”. Cerca de 200 pessoas fazem parte do grupo, entre empresários, advogados, mestres cervejeiros e ativos no meio.
Tudo começou com ataques a uma nova empresa, a cervejaria gaúcha Implicantes, que é fundada e gerenciada por negros. O empresário de Mato Grosso criticou a postura do governo federal em conceder financiamento para a Implicantes.
“O Mapa [Ministério da Agricultura] autoriza uma cervejaria negra? Não tem que ser branca, facilmente lavável, inox, etc?”, escreveu o empresario.
As mensagens trocadas fazem piada de que o “amigo negro, da cervejaria negra só faz stout”, um tipo de cerveja escura, feita com malte torrado.
A sommelier de cerveja Sara Araújo também foi atacada em conversa, definida como feminista de forma negativa.
“Mandei essa mina se f* na primeira vez que a vi”, disse um membro.
“Ela [Sara] deve transar com lésbicas negras. Se f*”, escreveu outro homem.
No entanto, os ataques não ficaram apenas contra Sara e partiram para mulheres que atuam no ramo. Os homens se referem às profissionais do meio como “bando de arruaceiras de suvaco cabeludo”.
“Eu acho que as cervejarias feministas deveriam primeiro aprender a falar lager corretamente, antes de fazer patrulha sexista”, cutucou um participante.
Membros do grupo ainda fizeram acusações de apropriação cultural europeia, citando que os europeus e brancos são os responsáveis pela produção da cerveja desde sempre.
Depois de partes da conversa de WhatsApp vazarem, um professor questionou se os membros queriam ser presos.
“Tá todo mundo aqui no grupo pronto para ir em cana? Ninguém solta a mão de ninguém”, disparou.
Segundo a Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM), o profissional foi afastado enquanto o caso é analisado.
A Abracerva (Associação Brasileira da Cerveja Artesanal) repudiou o episódio e os responsáveis devem sofrer sanções do código de ética do sindicato.
Vale ressaltar que racismo é considerado crime de ódio, passível de prisão, de acordo com a lei federal n° 7.716.
Outro lado
Procurado, o empresário disse estar arrependido e que aprendeu “que tem certas coisas que a gente não pode nem pensar, quanto mais falar. Mas esse negócio, essa perseguição que estou sofrendo, é algo inimaginável. Ser tratado como criminoso, que tenho certeza que não sou, é algo horroroso. Meus sócios chegaram a me afastar das minhas funções na cervejaria, e por quê? Porque conversas particulares foram tiradas de contexto e publicadas”.
Ele pediu desculpas se alguém se ofendeu com o comentário, pois jamais teve a intenção de prejudicar ninguém e que não eram comentários públicos. “Éramos dezenas de conhecidos em um grupo fechado de Whatsapp. Todos estamos passando por essa quarentena longa. Não é fácil enfrentar todas as dificuldades. Naquele grupo discutíamos diversos assuntos, de cunho técnico a brincadeiras. Como é natural em qualquer debate, a conversa oscila por pontos e contrapontos. Às vezes os assuntos tratados eram espinhosos, e nem sempre os posicionamentos eram delicados”.
“No caso em questão, a discussão era sobre a Cervejaria Implicantes, que pedia financiamento público, se auto intitulando de “a primeira cervejaria negra do Brasil”. A partir dessa notícia, discutiu-se, no grupo se o pleito era legítimo e se seria realmente necessária tal distinção étnica para ganhar a atenção do público. Nesse contexto eu fiz uma única colocação, em analogia as normativas do Ministério da Agricultura que, hoje, olhando em perspectiva, considero infeliz e desnecessária. Nunca deixei de respeitar nenhum ser humano. Me arrependo de ter participado da discussão não pela discussão em si, mas porque podia ter fluído de outra forma”, lamentou-se.